TRAGÉDIA INFANTIL NO CINE OBERDAN EM 1938
Olá Pessoal ...
Esse post traz um caso triste e trágico desse lindo cinema da imagem acima. Tão lindo de construção magnífica que guarda para sempre consigo memória de uma tarde de domingo marcada por lágrimas e sofrimento...
Esse cinema nada mais é o Cine Oberdan, que foi inaugurado em 1927, um empreendimento lançado pela Sociedade Italiana Leale Oberdan. Ele está localizado na rua Firmino Whitaker, na região do Brás.
Tudo começa no dia 10 de abril de 1938, numa matinê como outra qualquer onde crianças ali estavam para assistir mais uma sessão cujo filme em cartaz era "Criminosos do Ar". Vale lembrar que o local comporta mais de 1.200 pessoas, pois dentro da sala possui dois mezaninos.
A sala nesse dia estava lotada, como vocês podem notar na imagem a seguir uma foto tirada no dia da inauguração do local:
Nesse dia, não foi diferente. Está lotado, crianças acompanhadas de seus pais e outras foram sozinhas por morarem próximas do cinema. Naquela época era muito comum crianças irem nas matinês sozinhas e seus pais ficarem aguardando na porta assim que a sessão terminava para buscarem seus filhos para seguirem para suas casas.
Mas tudo corria muito bem, até quando repentinamente, um garoto de 10 anos de idade precisou ir ao banheiro que ficava no primeiro mezanino atrás da tela que estava sendo projetada o filme. Um detalhe muito importante: ele foi sozinho até o banheiro, estava muito escuro e o garoto tinha medo de escuro e na tentativa de iluminar o local porque não havia lanterninha no local, ele simplesmente pegou algumas folhas de jornal e fez uma mini fogueira para iluminar o banheiro e ao mesmo tempo o corredor.
Sua atitude inocente foi o estopim para a tragédia anunciada por uma pessoa que estava no mezanino e viu um ponto de fogo iluminado próximo à tela e assustada gritou: "Fogo!".
Seu alarme ocasionou um imenso tumulto e gritaria no local, onde muitas pessoas começaram a saírem de seus lugares e se dirigissem até a porta principal. O primeiro grupo de pessoas ao chegarem na saída, encontraram um grande obstáculo: a porta principal estava trancada do lado de fora.
Se isso foi o bastante para ocasionar uma tragédia continue lendo porque não acabou por aqui.
O primeiro grupo ficou próximo à porta principal trancada e os demais grupos de pessoas também chegaram e posteriormente as demais gritando por socorro, que abrissem logo a porta dando murros, empurrando as pessoas que próximas à porta estavam.
O tempo passava e o desespero aumentava. Tanto que no meio da correria e pânico geral, haviam 30 crianças na sala do cinema naquela matinê. Os adultos não deram conta disso e algo inusitado ocorreu: enquanto os adultos corriam de imediato até a porta, acabaram empurrando crianças e morreram pisoteadas uma a uma.
E os funcionários do cinema? Eles não fizeram nada?
Enquanto dentro da sala tumulto, pânico e desespero tomaram conta do ambiente, no lado de fora calmaria, funcionários trabalhando normalmente e outras pessoas comprando ingressos da próxima sessão. Naquele momento, ninguém percebeu nada somente gritos advindos da sala, no qual os funcionários estavam acostumados por conta do filme.
Minutos depois, um dos funcionários percebeu que algo estava errado pois o barulho dos gritos aumentava e todos estavam gritando fogo, cujas vozes eram de desespero e choro ao mesmo tempo próximo à porta de entrada.
Foi quando esse funcionário abriu a porta e as pessoas ao saírem correndo, quase atropelaram esse funcionário e a maioria disse que a sala estava pegando fogo.
Minutos mais tarde quando a sala finalmente pôde ficar vazia, funcionários do cinema entraram para verificar onde estava o foco do incêndio. Ninguém encontrou nada que não fosse um simples montinho de jornal que naquela altura havia se consumado.
O que eles puderam verificar diante de seus olhos eram uma fileira de crianças caídas no chão mortas. Não havia nada que eles pudessem fazer a não ser retirá-las dali em seus braços e sem palavras a dizer aos pais que ali estavam esperando por elas, eles sabiam que para casa elas não poderiam ir nunca mais.
Como as autoridades, jornalistas, vizinhança do cinema conseguiram reunir forças para dar essa triste notícia?
Os corpos dos 30 anjos foram retirados e encaminhados para a perícia e um grupo de investigadores iniciaram ali seus trabalhos para detectar a verdade da tragédia, juntamente às pessoas que sobreviveram ao tumulto conseguiram ter coragem de relatar tudo o que aconteceu no local.
A sala estava cheia de adultos e trinta crianças sentadas próximas ao corredor como era de costume elas ali ficarem. Um deles não estava se sentindo bem e comunicou à um adulto que iria ao banheiro mas, aguentou até quando pôde esperando por um lanterninha para ajudá-lo a ir ao banheiro e retornar rapidamente, com segurança. Mas ele não estava no local.
Estava perto do filme acabar quando ele não conseguiu esperar mais e foi ao banheiro fazendo suas necessidades na bermuda que usava, por onde ele passou tinha rastros de suas necessidades pelo caminho. No banheiro foi encontrado um amontoado de jornal queimado e a bermuda que o garoto estava usando ali deixada por ele comprovando a causa do tumulto generalizado.
Ou seja, não havia fogo nenhum na sala do cinema e o alarme dado por alguém perto, era falso. E isso sim foi o estopim para a tragédia.
Os pais horas depois, foram comunicados sobre o ocorridos e se dirigiram até o necrotério do cemitério do Araçá, em São Paulo para a triste e dolorida tarefa: fazer o reconhecimento dos corpos das crianças que ali estavam.
Ainda não acabou esse relato. Nessa etapa do reconhecimento, de acordo com registros oficiais, diante de muita emoção, dor e saudade misturada pela inconformidade diante dessa triste tarde de domingo, mais uma informação importante que não poderia ficar de fora.
Ressaltando que muitos pais perderam seus filhos, saibam que alguns perderam dois como foi o caso dos irmãos Pricoli de 12 e 8 anos de idade e do garoto Enrico Mandorino no qual não era para ele estar ali e sim no jóquei pois o menino gostava de corrida de cavalos. Mas, nesse dia sua mãe não deixou ele ir no jóquei e ordenou que ele fosse ao cinema. Sua mãe, ao saber da morte de Enrico, ficou desesperada e por anos, ficou de luto vestindo-se de preto e carregou consigo o peso da culpa até sua morte no início dos anos 80.
Outro fator curioso da tragédia é o que vou relatar nesse exato momento:
Além das 30 crianças mortas, havia uma mulher subindo o número para 31 mortes. Essa mulher era Maria Pereira que na época tinha 45 anos e estava no cinema com sua filha de colo, um bebê que se chamava Joanna. Além de Joanna, ela tinha mais seis filhos e morreu por ato materno para salvar sua filha ainda bebê.
No meio da confusão generalizada, ela foi derrubada por outras pessoas perto da escadaria principal, perto da saída. Como ela não conseguiu se levantar, simplesmente resolveu ficar ali para proteger sua filha por debaixo do corpo dela. Fazendo isso, ela morreu esmagada dando sua vida no lugar de sua filha.
A tragédia ganhou jornais e não demorou muito para que toda cidade ficasse comovida.
Não somente a cidade de São Paulo ficou comovida como também a Associação dos Comerciantes de São Paulo, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e o Sindicato dos Empregados das Indústrias.
Tanto esses órgãos quanto as famílias das vítimas entraram em comum acordo para que o sepultamento fosse coletivo em uma cerimônia única no Cemitério Quarta Parada.
Após essa tragédia, o Cine Oberdan funcionou até o final dos anos 1960. Nos meados de 1970, o local passou a funcionar a loja Zelo no qual funciona ali até os dias atuais, preservando o local.
Após a tragédia, houve mudanças na lei que passou a ter condições de funcionamento priorizando a segurança de todos os cinemas. Onde travas passaram a ficar do lado de dentro, portas passaram a ficar abertas, iluminação nos corredores e áreas úteis em todas as salas de cinema, passou a ter também saídas de emergência.
Esse foi um breve relato sobre a tragédia no Cine Oberdan em 10 de abril de 1938 que foi considerada a maior tragédia infantil registrada até o momento nesse quesito.
Até mais ....
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