TRIÂNGULO AMOROSO SOMBRIO
Olá, pessoal ...
São Paulo tem muitas histórias para nos contar assim como as demais metrópoles brasileiras que a própria História insiste em nos ocultar.
Esse post traz mais uma história que a própria cidade de São Paulo guardou no fundo do baú.
Se vocês gostam de triângulo amoroso com requinte de crueldade, sejam bem vindos e confiram pois a viagem começa a partir de agora...
O HOTEL:
Antes de apresentarmos os personagens da vez, inciamos o relato com a cena do crime.
Para isso, vamos para 1900. Ano em que foi construída e concluída a obra localizada entre as ruas XV de novembro e Boa Vista no Centro de São Paulo.
A construção na época tinha 15 metros de altura, 20 metros de frente, 75 metros de comprimento e três andares destinados a lojas, escritórios e armazéns e em cada andar possuía um terraço com sacada.
A galeria possuía colunas envidraçadas que auxiliavam na iluminação natural do local, principalmente a luz do sol, dando um toque refinado a uma São Paulo que estava começando a se modernizar.
Essa obra foi projetada por Max Hehl, o mesmo que projetou a Catedral da Sé e também contou com a construção do engenheiro Eduardo Loschi e assim que foi concluída foi entregue para Cristiano Webendoerfer que era o proprietário da galeria.
Foi inaugurada em 14 de novembro de 1900 regada a banda na porta e festa luxuosa com convidados ilustres dentre os quais estava o excelentíssimo presidente do Estado Rodrigues Alves (atualmente denominado governador).
Em frente à galeria recém inaugurada, situava-se o melhor hotel da cidade: Hotel Bella Vista que mudou-se para o primeiro andar da galeria logo após a inauguração com o objetivo de atrair mais público para o local.
OS PERSONAGENS:
Sim, não há crime sem os assassinos, vítimas e cúmplices.
Por esse motivo voltaremos para a máquina do tempo para 1904 quando tudo começou.
A personagem principal da história sombria, é a distinta moça nada convencional para a sua época, Albertina Barbosa, filha de D. Rosa uma senhora desquitada, abandonada por seu marido no qual foi viver com uma mulher mais jovem.
Ela não deu por vencida e tratou de cuidar sozinha da casa e da filha. Tanto que transformou sua casa em uma distinta e simples pensão acolhedora para receber estudantes advindos do interior para estudarem nas faculdades da cidade e após a conclusão dos estudos cediam o aposento para os futuros estudantes.
Tudo corria bem no orçamento doméstico de D. Rosa e por outro lado, Albertina concluía seu estudo no Magistério no qual desejava ser professora.
Em sua casa estavam hospedados dois estudantes distintos de família endinheirada: Senhor Morais Barreto e o Senhor Antônio Malheiros, sendo que esse último pagou adiantado o aluguel do aposento reservando-o para seu sobrinho que estava cursando o primeiro ano na Faculdade de Direito São Francisco, pois estava de partida para o Rio de Janeiro onde iria trabalhar e viver sua vida.
D. Rosa atendeu o pedido do fiel pagador e recebeu seu novo hóspede. Ela a princípio não se preocupou com nada pois sua filha sabia muito bem das normas rígidas da pensão.
Mas, quem manda no coração não é mesmo?
Albertina e Arthur começaram somente a se flertarem com trocas de olhares discretos. Conversavam pouco e somente o necessário.
Mas Albertina era uma moça linda, que atraía olhares por onde passava. E reforçando a posição dela na história, ela concluiu o curso de magistério na Caetano de Campos.
Semanas depois, ela recebeu uma proposta de trabalho em Bebedouro para dar aulas para os filhos do fazendeiro e dos empregados da fazenda.
Sua mãe não queria que ela partisse de imediato pois precisava se precaver e pensar se valeria a pena aceitar a tal proposta. Albertina não quis pensar duas vezes, arrumou as malas e antes de partir foi se despedir de seu galanteador apaixonado, mas quem disse que ela conseguiu sair do aposento do rapaz?
Sim, Albertina e Arthur se entregaram à paixão que sentiam um pelo outro e foi embora para outra cidade.
Porém algo inesperado aconteceu nessa viagem. Ela descobriu que estava grávida de Arthur. Mulheres que passam o farol vermelho (perdem a virgindade antes de se casar) e tornam-se mães solteiras nessa época era motivo de escândalo sem fim no círculo social da cidade.
Homem algum aceitava casar-se com mulheres pervertidas. Albertina não se importou com isso, mas sua mãe ao saber da gravidez da filha, ficou desesperada, pois tornou-se também alvo de escândalos.
Em 1905, nasceu a filha do casal apaixonado. Porém a paixão de Albertina por Arthur estava com os dias contados. Assim que a filha dos pombinhos nasceu, D. Rosa procurou Arthur para conversar abertamente.
Arthur por sua vez, deixou claro para D. Rosa que não queria casar-se com Albertina e muito menos assumir filho advindo fora do matrimônio. Porém, Arthur aceitou a filha e levou para Santa Casa encaminhando-a para adoção, dando um fim ao escândalo maior em sua família.
Albertina não esqueceu essa desfeita, ao invés de nutrir amor por ele, passou a nutrir ódio mortal.
E para evitar qualquer contato com Arthur, resolveu ir para Mato Grosso de Batatais para lecionar numa escola pública da região e nessa época conheceu Eliziário, um lindo e jovem professor meses depois mudaram-se para Ribeirão Preto para lecionarem juntos.
A paixão entre os dois aumentou a cada dia, até quando Eliziário pede a mão de Albertina em casamento em 1908. Ela feliz, aceitou de pronto. Mas aceitou por estar apaixonada por ele ou para se vingar de Arthur, seu desafeto?
Quando as férias se aproximaram Albertina viaja para São Paulo para dar a notícia pessoalmente para sua mãe. Ela comunica que iria se casar. D. Rosa se opõe por conta do escândalo, mas, Albertina ignorou os conselhos e advertências de sua mãe e casou com Eliziário mesmo assim.
Em 1909, nas férias de verão, Albertina teve o seu encontro com sua mãe onde ela comunicou que não voltaria atrás no casamento com Eliziário. Sua mãe parecia adivinhar o que se passava na mente de Albertina, pois ela não o amava e estava enganando o pobre rapaz pois ela era apaixonada por Arthur.
Tudo correu mil maravilhas para sua cerimônia simples, pois mulheres em suas condições jamais casaria de véu e grinalda na igreja. O casal apaixonado trocaram alianças no cartório na presença de testemunhas arranjadas pelo juiz e poucos convidados.
Seguiram para o Hotel dos Navegantes no Brás onde passaram a noite de núpcias e logo em seguida se hospedaram no Hotel Bella Vista no quarto de número 59.
O CRIME:
No dia 19 de fevereiro, Albertina procurou sua mãe e contou seu plano de vingança que era matar Arthur para se vingar do que ele tinha feito com ela, com ou sem ajuda de Eliziário. Ela falou para sua mãe que o rapaz já soube do ocorrido e quase cancelou tudo e voltou atrás quando sugeriu o plano de matar Arthur.
Sua mãe ouviu tudo aquilo chocada e apavorada. Mas nada se opôs pois sabia que nada e ninguém segurava sua filha quando ela colocava algo em mente.
Eliziário que a certo ponto soube do ocorrido, resolveu localizar o tal rapaz que desonrou sua amada. Ele sabia pela Albertina que ele era recém formado na faculdade de Direito São Francisco.
Mas queria certificar a fisionomia dele antes de agir e passou a perambular pela cidade a fim de encontrar o que tanto desejava. Não demorou muito para ele encontrar sua presa pela fotografia.
Sim ele passou em frente a uma loja de fotografias onde um painel com formandos do ano anterior estava embelezando a vitrine. Ele perguntou quem era o tal rapaz que procurava e o fotógrafo mostrou para ele.
Em posse das informações, retornou ao hotel e relatou sua descoberta para Albertina e ambos começaram a elaborar uma armadilha mortal.
Com tudo preparado, mal poderiam aguardar o dia seguinte.
Era terça-feira de carnaval, rua movimentada, cidade agitada com os blocos de rua, bailes nos clubes e mansões. Ruas enfeitadas aguardando o tal desfile nas ruas, assim como chuvas de confetes, serpentinas e lança perfume nas lindas damas que passavam pelos rapazes, que gentilmente lançavam perfume do objeto discretamente e as moças revidavam numa brincadeira calorosa e divertida na época.
Mas onde estaria Arthur numa terça feira de carnaval? Ou na roda de amigos num bar apreciando o movimento na rua ou numa confeitaria tomando café e conversando com amigos enquanto não começa o tal baile de máscaras. Mas o baile de máscaras vai acontecer sem a presença sutil de um recém formado, feliz e com futuro profissional brilhante pela frente...
Ele foi abordado na saída de uma confeitaria pelo Eliziário para atraí-lo numa emboscada fatal. Os dois caminham tranquilamente rumo ao Hotel Bella Vista e Arthur nada desconfiou pois ele estava indo rumo à morte que estamparia as primeiras páginas do jornal.
Ao perceber que o barulho que perto da porta, Albertina preparou-se para o ataque de fúria, posicionando-se estrategicamente.
Arthur adentrou ao aposento de Eliziário e ao notar a presença de Albertina era tarde, ela em posse de um revólver, disparou no peito do rapaz que caiu pedindo-lhe perdão mas denota-se que a última coisa que ela desejava no momento era o pedido de perdão do rapaz alvejado.
Ela não se deu por satisfeita e disparou na cabeça de Arthur, o rapaz ainda se movia lentamente contra a vontade de Albertina que foi em direção ao rapaz com uma faca em punho e degolou fatalmente Arthur friamente com sede de ódio.
Com o Arthur morto no aposento do Hotel, ao invés do casal fugir do local, levando seus pertences e as armas do crime, fizeram justamente o contrário, como se suplicassem para serem presos pelo crime por eles praticados.
Eliziário, sutilmente dirige-se até a sacada e aguardou o primeiro guarda que encontrasse circulando pelo local para adentrar até o seu aposento. Assim o fez quando avistou um andando calmamente na calçada.
Ele convidou-o para entrar, o casal não tinha nada a perder ou esconder, pois o plano estava concretizado e não importava nem um pouco o que aconteceria com eles depois.
Após recolherem o corpo de Arthur e encaminhar para o necrotério do cemitério do Araçá, iniciou-se as investigações de acordo com as normas da época.
Não demorou muito para o casal ser considerado culpado pelo assassinato em plena terça-feira de carnaval.
Albertina contou tudo desde início e ocultando outros detalhes por ela considerados tolos demais.
Os investigadores descobriram que no interior, o comportamento de Albertina era desregrado demais, o que justificou o motivo pelo qual Arthur não ter aceitado casar-se com Albertina.
Descobriram também que se hospedaram no hotel do Brás com nomes falsos e que ambos estiveram juntos no Rio de Janeiro meses antes no endereço encontrado pela polícia na mala de Albertina.
Ela negou o que podia até o fim e manteve sua versão durante seu julgamento no qual ela estava em estado avançado de gravidez, fruto da relação com Eliziário.
No julgamento em 1909 ela foi absolvida, em 1911 no segundo foi condenada e aguardou presa pelo segundo julgamento no mesmo ano que no qual o júri entendeu que ela matou Arthur por vingar-se por ter sido desonrada e o rapaz não ter assumido sua filha fruto do amor dos jovens.
Eliziário por sua vez, foi julgado em 1911 e 1913 e foi absolvido nos dois, o júri compreendeu que o crime praticado pelos dois tratava-se de crime de honra e não homicídio doloso.
Esse crime foi sim verdade e ganhou reportagem especial na antiga Revista Careta em 1909:
No mesmo ano o crime inspirou um curta metragem do cinema mudo que retratou o triângulo amoroso que terminou de forma trágica denominado "Noivado de Sangue".
Esse crime nos deixa claro que com amor não se divide ou se brinca pois uma das partes poderá sair ferida para sempre cuja cicatriz jamais irá se curar...
Esse foi um breve relato sobre um crime que marcou o início do século XX em São Paulo.
Até mais...
Esse post traz mais uma história que a própria cidade de São Paulo guardou no fundo do baú.
Se vocês gostam de triângulo amoroso com requinte de crueldade, sejam bem vindos e confiram pois a viagem começa a partir de agora...
O HOTEL:
Antes de apresentarmos os personagens da vez, inciamos o relato com a cena do crime.
Para isso, vamos para 1900. Ano em que foi construída e concluída a obra localizada entre as ruas XV de novembro e Boa Vista no Centro de São Paulo.
A construção na época tinha 15 metros de altura, 20 metros de frente, 75 metros de comprimento e três andares destinados a lojas, escritórios e armazéns e em cada andar possuía um terraço com sacada.
A galeria possuía colunas envidraçadas que auxiliavam na iluminação natural do local, principalmente a luz do sol, dando um toque refinado a uma São Paulo que estava começando a se modernizar.
Essa obra foi projetada por Max Hehl, o mesmo que projetou a Catedral da Sé e também contou com a construção do engenheiro Eduardo Loschi e assim que foi concluída foi entregue para Cristiano Webendoerfer que era o proprietário da galeria.
Foi inaugurada em 14 de novembro de 1900 regada a banda na porta e festa luxuosa com convidados ilustres dentre os quais estava o excelentíssimo presidente do Estado Rodrigues Alves (atualmente denominado governador).
Em frente à galeria recém inaugurada, situava-se o melhor hotel da cidade: Hotel Bella Vista que mudou-se para o primeiro andar da galeria logo após a inauguração com o objetivo de atrair mais público para o local.
OS PERSONAGENS:
Sim, não há crime sem os assassinos, vítimas e cúmplices.
Por esse motivo voltaremos para a máquina do tempo para 1904 quando tudo começou.
A personagem principal da história sombria, é a distinta moça nada convencional para a sua época, Albertina Barbosa, filha de D. Rosa uma senhora desquitada, abandonada por seu marido no qual foi viver com uma mulher mais jovem.
Ela não deu por vencida e tratou de cuidar sozinha da casa e da filha. Tanto que transformou sua casa em uma distinta e simples pensão acolhedora para receber estudantes advindos do interior para estudarem nas faculdades da cidade e após a conclusão dos estudos cediam o aposento para os futuros estudantes.
Tudo corria bem no orçamento doméstico de D. Rosa e por outro lado, Albertina concluía seu estudo no Magistério no qual desejava ser professora.
Em sua casa estavam hospedados dois estudantes distintos de família endinheirada: Senhor Morais Barreto e o Senhor Antônio Malheiros, sendo que esse último pagou adiantado o aluguel do aposento reservando-o para seu sobrinho que estava cursando o primeiro ano na Faculdade de Direito São Francisco, pois estava de partida para o Rio de Janeiro onde iria trabalhar e viver sua vida.
D. Rosa atendeu o pedido do fiel pagador e recebeu seu novo hóspede. Ela a princípio não se preocupou com nada pois sua filha sabia muito bem das normas rígidas da pensão.
Mas, quem manda no coração não é mesmo?
Albertina e Arthur começaram somente a se flertarem com trocas de olhares discretos. Conversavam pouco e somente o necessário.
Mas Albertina era uma moça linda, que atraía olhares por onde passava. E reforçando a posição dela na história, ela concluiu o curso de magistério na Caetano de Campos.
Semanas depois, ela recebeu uma proposta de trabalho em Bebedouro para dar aulas para os filhos do fazendeiro e dos empregados da fazenda.
Sua mãe não queria que ela partisse de imediato pois precisava se precaver e pensar se valeria a pena aceitar a tal proposta. Albertina não quis pensar duas vezes, arrumou as malas e antes de partir foi se despedir de seu galanteador apaixonado, mas quem disse que ela conseguiu sair do aposento do rapaz?
Sim, Albertina e Arthur se entregaram à paixão que sentiam um pelo outro e foi embora para outra cidade.
Porém algo inesperado aconteceu nessa viagem. Ela descobriu que estava grávida de Arthur. Mulheres que passam o farol vermelho (perdem a virgindade antes de se casar) e tornam-se mães solteiras nessa época era motivo de escândalo sem fim no círculo social da cidade.
Homem algum aceitava casar-se com mulheres pervertidas. Albertina não se importou com isso, mas sua mãe ao saber da gravidez da filha, ficou desesperada, pois tornou-se também alvo de escândalos.
Em 1905, nasceu a filha do casal apaixonado. Porém a paixão de Albertina por Arthur estava com os dias contados. Assim que a filha dos pombinhos nasceu, D. Rosa procurou Arthur para conversar abertamente.
Arthur por sua vez, deixou claro para D. Rosa que não queria casar-se com Albertina e muito menos assumir filho advindo fora do matrimônio. Porém, Arthur aceitou a filha e levou para Santa Casa encaminhando-a para adoção, dando um fim ao escândalo maior em sua família.
Albertina não esqueceu essa desfeita, ao invés de nutrir amor por ele, passou a nutrir ódio mortal.
E para evitar qualquer contato com Arthur, resolveu ir para Mato Grosso de Batatais para lecionar numa escola pública da região e nessa época conheceu Eliziário, um lindo e jovem professor meses depois mudaram-se para Ribeirão Preto para lecionarem juntos.
A paixão entre os dois aumentou a cada dia, até quando Eliziário pede a mão de Albertina em casamento em 1908. Ela feliz, aceitou de pronto. Mas aceitou por estar apaixonada por ele ou para se vingar de Arthur, seu desafeto?
Quando as férias se aproximaram Albertina viaja para São Paulo para dar a notícia pessoalmente para sua mãe. Ela comunica que iria se casar. D. Rosa se opõe por conta do escândalo, mas, Albertina ignorou os conselhos e advertências de sua mãe e casou com Eliziário mesmo assim.
Em 1909, nas férias de verão, Albertina teve o seu encontro com sua mãe onde ela comunicou que não voltaria atrás no casamento com Eliziário. Sua mãe parecia adivinhar o que se passava na mente de Albertina, pois ela não o amava e estava enganando o pobre rapaz pois ela era apaixonada por Arthur.
Tudo correu mil maravilhas para sua cerimônia simples, pois mulheres em suas condições jamais casaria de véu e grinalda na igreja. O casal apaixonado trocaram alianças no cartório na presença de testemunhas arranjadas pelo juiz e poucos convidados.
Seguiram para o Hotel dos Navegantes no Brás onde passaram a noite de núpcias e logo em seguida se hospedaram no Hotel Bella Vista no quarto de número 59.
O CRIME:
No dia 19 de fevereiro, Albertina procurou sua mãe e contou seu plano de vingança que era matar Arthur para se vingar do que ele tinha feito com ela, com ou sem ajuda de Eliziário. Ela falou para sua mãe que o rapaz já soube do ocorrido e quase cancelou tudo e voltou atrás quando sugeriu o plano de matar Arthur.
Sua mãe ouviu tudo aquilo chocada e apavorada. Mas nada se opôs pois sabia que nada e ninguém segurava sua filha quando ela colocava algo em mente.
Eliziário que a certo ponto soube do ocorrido, resolveu localizar o tal rapaz que desonrou sua amada. Ele sabia pela Albertina que ele era recém formado na faculdade de Direito São Francisco.
Mas queria certificar a fisionomia dele antes de agir e passou a perambular pela cidade a fim de encontrar o que tanto desejava. Não demorou muito para ele encontrar sua presa pela fotografia.
Sim ele passou em frente a uma loja de fotografias onde um painel com formandos do ano anterior estava embelezando a vitrine. Ele perguntou quem era o tal rapaz que procurava e o fotógrafo mostrou para ele.
Em posse das informações, retornou ao hotel e relatou sua descoberta para Albertina e ambos começaram a elaborar uma armadilha mortal.
Com tudo preparado, mal poderiam aguardar o dia seguinte.
Era terça-feira de carnaval, rua movimentada, cidade agitada com os blocos de rua, bailes nos clubes e mansões. Ruas enfeitadas aguardando o tal desfile nas ruas, assim como chuvas de confetes, serpentinas e lança perfume nas lindas damas que passavam pelos rapazes, que gentilmente lançavam perfume do objeto discretamente e as moças revidavam numa brincadeira calorosa e divertida na época.
Mas onde estaria Arthur numa terça feira de carnaval? Ou na roda de amigos num bar apreciando o movimento na rua ou numa confeitaria tomando café e conversando com amigos enquanto não começa o tal baile de máscaras. Mas o baile de máscaras vai acontecer sem a presença sutil de um recém formado, feliz e com futuro profissional brilhante pela frente...
Ele foi abordado na saída de uma confeitaria pelo Eliziário para atraí-lo numa emboscada fatal. Os dois caminham tranquilamente rumo ao Hotel Bella Vista e Arthur nada desconfiou pois ele estava indo rumo à morte que estamparia as primeiras páginas do jornal.
Ao perceber que o barulho que perto da porta, Albertina preparou-se para o ataque de fúria, posicionando-se estrategicamente.
Arthur adentrou ao aposento de Eliziário e ao notar a presença de Albertina era tarde, ela em posse de um revólver, disparou no peito do rapaz que caiu pedindo-lhe perdão mas denota-se que a última coisa que ela desejava no momento era o pedido de perdão do rapaz alvejado.
Ela não se deu por satisfeita e disparou na cabeça de Arthur, o rapaz ainda se movia lentamente contra a vontade de Albertina que foi em direção ao rapaz com uma faca em punho e degolou fatalmente Arthur friamente com sede de ódio.
Com o Arthur morto no aposento do Hotel, ao invés do casal fugir do local, levando seus pertences e as armas do crime, fizeram justamente o contrário, como se suplicassem para serem presos pelo crime por eles praticados.
Eliziário, sutilmente dirige-se até a sacada e aguardou o primeiro guarda que encontrasse circulando pelo local para adentrar até o seu aposento. Assim o fez quando avistou um andando calmamente na calçada.
Ele convidou-o para entrar, o casal não tinha nada a perder ou esconder, pois o plano estava concretizado e não importava nem um pouco o que aconteceria com eles depois.
Após recolherem o corpo de Arthur e encaminhar para o necrotério do cemitério do Araçá, iniciou-se as investigações de acordo com as normas da época.
Não demorou muito para o casal ser considerado culpado pelo assassinato em plena terça-feira de carnaval.
Albertina contou tudo desde início e ocultando outros detalhes por ela considerados tolos demais.
Os investigadores descobriram que no interior, o comportamento de Albertina era desregrado demais, o que justificou o motivo pelo qual Arthur não ter aceitado casar-se com Albertina.
Descobriram também que se hospedaram no hotel do Brás com nomes falsos e que ambos estiveram juntos no Rio de Janeiro meses antes no endereço encontrado pela polícia na mala de Albertina.
Ela negou o que podia até o fim e manteve sua versão durante seu julgamento no qual ela estava em estado avançado de gravidez, fruto da relação com Eliziário.
No julgamento em 1909 ela foi absolvida, em 1911 no segundo foi condenada e aguardou presa pelo segundo julgamento no mesmo ano que no qual o júri entendeu que ela matou Arthur por vingar-se por ter sido desonrada e o rapaz não ter assumido sua filha fruto do amor dos jovens.
Eliziário por sua vez, foi julgado em 1911 e 1913 e foi absolvido nos dois, o júri compreendeu que o crime praticado pelos dois tratava-se de crime de honra e não homicídio doloso.
Esse crime foi sim verdade e ganhou reportagem especial na antiga Revista Careta em 1909:
No mesmo ano o crime inspirou um curta metragem do cinema mudo que retratou o triângulo amoroso que terminou de forma trágica denominado "Noivado de Sangue".
Esse crime nos deixa claro que com amor não se divide ou se brinca pois uma das partes poderá sair ferida para sempre cuja cicatriz jamais irá se curar...
Esse foi um breve relato sobre um crime que marcou o início do século XX em São Paulo.
Até mais...
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